07- ARTIGOS

UTOPIA
Por: Rita de Cássia

Quanto vale a concretização de um sonho? O seu, o meu ou do vizinho?
Se cada um parar a fim de realizar algo, com certeza esse não tem preço. Não importa quantas horas você ficou olhando as nuvens transformando-se em castelos, carneirinhos; ou a lua em São Jorge e o dragão.
O que realmente tem sentido é o desejo de ver este sonho materializar-se. É ver de repente uma nuvem que antes era um castelo tornar-se uma sala cheia de estantes e livros. Os carneirinhos tomam forma de gente e, melhor ainda, se esses forem crianças, colorindo assim esse espaço com olhos de todas as cores, pretos, amarelos, verdes, azuis, semelhantes ao poema “As Borboletas”, de Vinícius.
Parece realmente impossível? Mas não foi porque os livros que estavam em estantes empoeiradas, com dobradiças quebradas ou presas em pacotes que não podiam ser abertos, fizeram uma revolução. Certo dia rebelaram-se, pularam das estantes, quebraram as amarras e mudaram-se para a sala dos professores. No início, até que eles não ficaram muito satisfeitos com a invasão, mas como a concorrência era maior, aceitaram pacificamente.
O sonho ainda não está completamente realizado, mas a semente foi lançada.
Com certeza a Emília seria uma aliada da professora Rita que não se assemelha à menina que roubava livro no sentido de se apropriar de forma ilícita de livros, mas que fugia para ler em uma biblioteca pública e apanhava quando esquecia das horas e demorava a voltar para casa.
Um dia, com certeza, além de uma quadra maravilhosa, a escola Mozart Cardoso contará também com uma biblioteca que será a concretização de um sonho, não de valsa, mas recheado de Alices no País das Maravilhas, Patativas, Gabriel o Pensador e porque não o Tio Patinhas, Cascão...
Sem contar que os correios já encontram o endereço do colégio Mozart Cardoso que fica na Rua Arnóbio Barcelar Caneca S/N. Esta semana a sala de leitura recebeu um presente de livros do FNDE que foi motivo de muito movimento, na hora do recreio e riso quando alguém falou que queria locar um dos livros.
O recreio agora tem outra cara. Os chutes e agarra-agarra estão sendo substituídos. Os jovens estão resgatando as etapas queimadas de uma infância sem brinquedos e mostram como são criativos, com jogos de encaixe, montando porta-aviões, robôs e frotas de caminhões.
Quem sabe num futuro bem próximo a escola Mozart estará abrigando seus alunos nos dois turnos e assim eles retornarão a suas casas sonhando em voltar no dia seguinte não por obrigação, mas por prazer.
E Paulo Freire, de onde estiver, estará abençoando e dizendo: Finalmente uma secretaria de educação usou a minha poesia Escola no dia de Classe, entendendo o que eu quis dizer.
(Rita de Cássia Gonçalves de Oliveira é professora da Escola Mozart Cardoso de Alencar, de Juazeiro do Norte)